Leitura da Palavra de Deus
Aleluia aleluia, aleluia
Eis o Evangelho dos pobres,
a libertação dos prisioneiros,
a vista dos cegos,
a libertação dos oprimidos
Aleluia aleluia, aleluia
Jeremias 2,8-20
Os sacerdotes não se interrogaram:
«Onde está o Senhor?»
Os doutores da Lei não me reconheceram,
os pastores revoltaram-se contra mim,
e os profetas profetizaram em nome de Baal
e seguiram deuses inúteis.
Por isso, entro hoje em juízo contra vós
e contra os filhos dos vossos filhos
- oráculo do Senhor.
Passai, portanto, às ilhas dos Kitim e vede;
enviai gente a Quedar e informai-vos bem
e vede se lá aconteceu algo de semelhante.
Acaso troca uma nação os seus deuses?
E, no entanto, aqueles não são deuses.
Mas o meu povo trocou a sua glória
por aquilo que não vale.
Pasmai, ó céus, acerca disto!
Tremei de espanto e de horror!
- oráculo do Senhor.
Porque o meu povo cometeu um duplo crime:
abandonou-me, a mim,
nascente de águas vivas,
e construiu cisternas para si,
cisternas rotas,
que não podem reter as águas.»
«Acaso Israel é um escravo nascido na própria casa?
Por que razão se tornou uma presa?
Contra ele rugiram os leões enfurecidos
e reduziram a sua terra a um deserto;
deixaram as suas cidades incendiadas
e sem habitantes.
Até os habitantes de Mênfis e de Tafnes te raparam a cabeça.
Não te aconteceu tudo isto
porque abandonaste o Senhor, teu Deus,
quando te guiava pelo caminho?
E agora, de que te vale correres para o Egipto,
para beber água do Nilo?
E de que te vale correres para a Assíria,
para beber água do Eufrates?
Sirvam-te de castigo as tuas perversidades,
e de punição as tuas infidelidades.
Portanto, aprende e vê
quão funesto e amargo é o resultado
de teres abandonado o Senhor, teu Deus,
e teres perdido o meu temor»
- oráculo do Senhor Deus do universo.
Desde há muito, quebraste o teu jugo,
rompeste as tuas cadeias
e disseste: «Não servirei.»
E sobre todas as colinas elevadas,
e sob todas as árvores verdejantes
te reclinaste e te prostituíste.
Aleluia aleluia, aleluia
O Filho do Homem veio para servir
quem quiser ser grande, faça-se servo de todos
Aleluia aleluia, aleluia
Neste longo oráculo profético emerge o próprio pasmo de Deus pela atitude do Seu povo que, quase inexplicavelmente, O abandonou. Por isso, o Senhor inicia um verdadeiro processo através do qual tenta fazer com que Israel tome consciência da sua triste condição de fragilidade e de pecado. O texto está cheio de interrogações e de exortações que fazem emergir o desejo de Deus em conduzir o próprio povo no caminho da conversão. Com efeito, como é possível que o povo de Israel possa abandonar o seu Senhor depois de tantas dádivas recebidas? Não correm, assim, o risco de se tornarem escravos dos ídolos e do próprio eu? É uma escolha que deriva do orgulho. Com efeito, em nome de uma falsa ideia de liberdade encaminhamo-nos para um triste regresso à condição de escravidão. O profeta fala do Egipto e da Assíria, as duas grandes potências do tempo, a quem era fácil “ir atrás” para garantir um bem-estar económico e segurança política. Mas isso significava também ligar-se aos ídolos destes povos e, portanto, renunciar à própria liberdade. É a triste história de todo aquele que persegue o bem-estar, satisfações e tranquilidade só para si. Essa pessoa pode até chegar a blasfemar e dizer: “Não te servirei”. É a recusa de amar e de servir Deus, ainda que isso possa implicar a perda da condição de filhos predilectos do Pai. Preferimos servir-nos a nós mesmos do que ao Senhor e ao próximo. Mas Jesus recorda-nos que, se quisermos ser grandes, sê-lo-emos apenas se vivermos como escravos, isto é, só se, tal como Ele, assumirmos as fadigas e os sofrimentos do próximo. Quem abandona o Senhor para seguir a si mesmo tornar-se-á escravo do egoísmo e da solidão. Mas o Senhor acolhe todo aquele que n’Ele se refugia, porque só Ele é que é “a nascente de água viva” que pode saciar a sede e restaurar do cansaço da vida.
