XXIV do tempo comum
Recordação de Maria, Mãe de Jesus, angustiada sob a Cruz e de todos os que vivem a compaixão com quem é crucificado, está só, é condenado. Recordação de dom Pino Puglisi, pároco de Brancaccio em Palermo, mártir assassinado pela máfia.
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Homilia
No Evangelho deste domingo, aparece primeiro um pastor que chama os seus amigos e diz-lhes: “Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida” (v. 6); em seguida, uma dona de casa que reúne as suas amigas e diz-lhes: “Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido” (v. 9). E, por fim, um pai que chama os servos e diz-lhes: “Pegai no novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver” (vv. 23-24). São três maneiras de manifestar o mesmo estado de ânimo: a alegria de Deus quando encontra os Seus filhos que se tinham perdido. Gostaria de imaginar a alegria de Deus quando eclode em cada Sagrada Liturgia do domingo. É verdade! Todos os domingos, Deus reencontra-nos e festeja. E podemos comparar o Senhor àquele pai da parábola que do alto da casa observa os nossos caminhos e mal nos vê chegar, como fez com aquele filho que regressava, corre para a porta para ir ao nosso encontro, para nos abraçar. E, com efeito, a Sagrada Liturgia inicia com o abraço de Deus: é o momento do perdão. Somos logo revestidos pela misericórdia: “Depressa, trazei a melhor túnica para vestir o meu filho. E colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés” (v. 22). E podemos entoar o hino de louvor, o Glória. E a seguir, começa o longo colóquio com a Palavra de Deus, interrompido pelo nosso distanciamento. Segue o banquete eucarístico que, nutrindo-nos com o Pão Santo e o Cálice da Salvação, nos transforma até nos assemelharmos ao Filho predilecto.
Podemos dizer que o domingo é isso: a festa do abraço de Deus, a festa da grande misericórdia. Uma misericórdia que é raro encontrar no mundo, onde muitas vezes se manifesta a falta de perdão e, ainda mais, a falta de amor. Entre nós, é normal que nos afirmemos, que reivindiquemos os nossos direitos e nos tornemos insensíveis ao perdão. Os dois filhos da parábola, o mais novo e o mais velho, são ambos mesquinhos e egoístas. Somos levados a dizer: “Pobre pai com aqueles dois filhos!”. Tinham tudo: o pai rico e uma casa grande; empregados que os serviam e propriedades para desfrutar. Tinham tudo, mas em comum. Preferiram a própria mesquinhez. “Pai - disse o filho mais novo - dá-me a parte da herança que me cabe” (v. 12). Deveras tolo! Prefere uma parte ao todo. Naquele jovem, como muitas vezes acontece em cada um de nós, encontra-se a aversão pelo comum; a contrariedade por não ser dono absoluto de nós mesmos e das próprias coisas. “Dá-me a parte da herança que me cabe!”. É um triste refrão quotidiano. O jovem afastou-se de casa para viver como um dissoluto. No contexto evangélico, o termo “dissoluto”, mais do que um comportamento imoral, significa uma vida liberta (dis-soluta) de qualquer dependência, tanto do pai, como da casa. Isto é, viver como um dissoluto significa querer fazer as coisas sozinho, sem ouvir ninguém e sem depender de ninguém. Por outras palavras, viver só, longe do pai. Mas comportando-se dessa maneira, aquele jovem reduziu-se a guardar porcos.
Igualmente egoísta foi o irmão mais velho. Mal os empregados lhe disseram a razão da festa, ficou com raiva contra o pai e não quis entrar em casa. Recusa a festa e a misericórdia; prefere um cabrito para ele e para alguns amigos ao vitelo gordo e à mesa preparada com o irmão e todos os outros. É estranho que não se deixe levar por aquela festa; mas acontece isso sempre que se deseja a festa só para nós. O Pai diz-lhe: “Tudo o que é meu é teu” (v. 31). Mas aquele filho prefere ficar fora, nervoso e triste; parece incrível e, no entanto, está triste, porque o pai organizou uma grande festa. Estes dois filhos não estão muito longe de nós; convivem no coração de cada um de nós, unidos pela mesma vontade de possuir tudo. Precisamente o contrário daquilo que o Pai deseja. Mas a vontade de possuir, de ter só para si, como o Evangelho nos mostra, leva à tristeza e, muitas vezes, também, à ruína. No entanto, no fim, o que mais conta é a capacidade de tomar consciência de si mesmo, de se aperceber da tristeza da própria situação, de se erguer e regressar para a casa do Pai. É suficiente recordar estas palavras evangélicas sobre a misericórdia de Deus que nos parecem infinitamente maiores do que o nosso pecado. E é precisamente esta recordação que nos dá a força para nos levantarmos e retomarmos o caminho em direcção ao Senhor. Encontraremos não um juiz, mas um pai que vem ao nosso encontro, para nos abraçar.
O domingo é o dia abençoado para regressar. A Sagrada Liturgia vem ao nosso encontro e vence toda a nossa tristeza, o nosso pecado, o nosso isolamento. Deixemo-nos levar por esta festa e saboreemo-la. O domingo alarga o coração, faz cair os muros, faz abrir as portas da mente, faz olhar para longe em direcção do mundo, em direcção dos pobres. O domingo é pródigo, como pródiga é a misericórdia de Deus. O domingo é rico, não mesquinho; está cheio de sentimentos mais lindos do que os nossos instintos banais e naturais. O domingo é o dia santo em que Deus nos tornou homens e mulheres mais felizes. Um hino antigo, composto pelo santo bispo João Crisóstomo, cantava: “Aquele que é amigo de Deus, que goze esta festa linda e luminosa. Aquele que trabalhou e não o fez, aquele que está na paz e aquele que sofre, aquele que se perdeu e aquele que esteve em casa, aquele que está com um peso ou aquele que se alegrou, venham todos e serão acolhidos. A Sagrada Liturgia é festa, é perdão, é abraço de Deus para cada um de nós”. Assim seja para nós hoje.