III do Advento
Recordação de Gigi, uma criança de Nápoles, que morreu de modo violento. Com ele recordamos todas as crianças que sofrem ou que morreram devido à violência dos homens. Oração pelas crianças.
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Homilia
A Palavra de Deus que nos é dirigida neste terceiro domingo do Advento convida a todos os que habitam no deserto deste mundo a alegrarem-se porque recebem uma promessa: “Verão a glória do Senhor e a beleza do nosso Deus” (Is 35, 2). O profeta leva os ouvintes a abrirem os olhos para além da tristeza e da resignação deste mundo e exorta todos a terem esperança e a aguardarem o advento de Deus. Escreve ainda: “Sede fortes! Não tenhais medo; olhai para o vosso Deus... Ele vem para vos salvar”. O Senhor virá. É a promessa que o profeta, com ponderada e alegre firmeza, faz também a nós. Ele apresenta-nos a visão de um mundo novo, onde o coxo salta como um veado, o mudo grita de alegria e abre-se um caminho entre o peso e a tristeza da condição humana e, através dele, passarão aqueles que foram resgatados pelo Senhor. E acrescenta ainda: “Serão acompanhados de prazer e alegria e a tristeza e o pranto fugirão". Mas, tudo isso não é um sonho? Não é um dos muitos sonhos que se repropõem de tempos a tempos? O sonho dos momentos de optimismo? Ou uma bela esperança que o profeta nos anuncia para consolar a tristeza da nossa condição? Na verdade, quando é que poderemos ver no lugar das lágrimas e da tristeza uma eventual alegria ou felicidade? Provavelmente é justamente este o drama de João Baptista que está prisioneiro de Herodes. A promessa de Isaías, não será um sonho? O advento do Reino de Deus, não será uma realidade afastada? Quanto mais será preciso esperar ainda?
João, que não é por acaso que neste tempo nos acompanha decididamente para o Natal, manda os seus discípulos a Jesus para Lhe perguntarem: “És Tu aquele que há-de vir, ou devemos esperar outro?”. É a pergunta deste tempo do Advento; mas é também a pergunta de todos os dias do homem religioso e do homem que se interessa pelo destino do mundo. Também nós, neste domingo, perguntamos qual é o advento, quando e como se realizará a profecia de Isaías. Perguntamos à Palavra do Senhor, como aqueles discípulos de João perguntaram a Jesus. O evangelista refere que os discípulos de João foram acolhidos pelo Profeta de Nazaré que lhes respondeu: “Ide contar a João o que ouvis e vedes: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Notícia é anunciada aos pobres”. Jesus, retomando as palavras do profeta Isaías, manda dizer a João que aquela profecia já se realizou; já não é só um sonho, já é realidade.
Através da Sua pessoa que caminha entre os homens, a profecia de Isaías iniciou a sua definitiva realização. E Jesus acrescenta: “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de Mim”. N’Ele cumpre-se o projecto de Deus, não no carácter extraordinário do maravilhoso ou no mistério do exoterismo mágico, mas na quotidianidade da misericórdia e no mistério da compaixão. Cabe às gerações cristãs, também à nossa, tornar visíveis os sinais que Jesus pôs como início de um mundo renovado. É a grave responsabilidade que cada discípulo carrega às costas. Também nós podemos responder a quem nos interpela: “Ide contar o que ouvis e vedes”. Pois bem, os sinais deste advento estão presentes também hoje. Há quem começou a anunciar o Evangelho aos pobres, há quem realiza os milagres da caridade, da justiça, da misericórdia de Deus, há quem, esquecendo-se de si mesmo, pôs-se ao serviço dos mais humildes e dos mais pobres, há cegos que vêm amigos carinhosos ao lado deles, há aqueles que sabem consolar quem chora e sabem ser meigos e atenciosos para com quem está doente e abandonado.
Feliz aquele que acolhe estes sinais e se deixa tocar no coração. Jesus veio e ensina-nos a caminhar com Ele, a trabalhar com Ele, a amar com Ele, a comover-se com Ele com aquelas multidões cansadas e exaustas que encontrava ao longo do caminho. Ele ensina-nos a não desesperar na espera e a não fechar o nosso coração no estrito horizonte de hoje, no orgulho ou na resignação. “Vem, Senhor Jesus!”, era a oração antiga dos cristãos. E é também a nossa oração que nos livra do fascínio triste do deserto deste mundo.