XXXII do tempo comum
Memória da dedicação da catedral de Roma, a Basílica dos Santos João Baptista e Evangelista em Latrão. Oração pela Igreja de Roma. Recordação da “Noite dos cristais”, início da perseguição nazista contra os hebreus.
Leia mais
Homilia
Escreve o Evangelho que dez mulheres aguardam a chegada do noivo. Cinco delas não têm juízo e as outras são prudentes. E a prudência, segundo a narração, consiste em levar consigo não só a lâmpada com a própria reserva normal de azeite, mas também outro azeite de reserva. As cinco sem juízo, seguras de si, julgam terem previsto tudo. Mas o noivo demora-se..., até noite, ou melhor, até noite funda. Obviamente nada de mais fácil para aquelas dez virgens do que se deixarem surpreender pelo sono. E, de facto, é fácil adormecer nos próprios hábitos e nas próprias certezas; é fácil deixar-se levar pelo torpor do amor-próprio. Note-se que todas adormecem. A distinção não reside aqui. Não há heróis que vigilam e velhacos que adormecem. Todas, todos, até mesmo os melhores se deixam surpreender pelo sono. Aquelas dez mulheres somos todos nós, muitas vezes fechados num modo de viver mesquinho e sonolento, sem grandes sonhos e ideais. Provavelmente, só com grandes sonos. De resto, o importante é estarmos tranquilos, não termos aborrecimentos, problemas, maçadas. Ou então, angustiamo-nos, sobretudo, pelas nossas coisas; afligimo-nos e teimamos em nos defendermos a nós mesmos. Esta é a noite de uma vida cinzenta, sempre igual, sem espaços de luz, sem estrelas; é a noite de um egoísmo difundido que nasce das profundezas do coração de cada um de nós, sensato ou não, não importa.
Mas nesta noite, ouviu-se de imprevisto um grito que anuncia a chegada do noivo. Que grito é esse? É o grito que provém das terras longínquas dos países pobres, é o grito que vem dos povos em guerra, é o grito dos idosos sozinhos que invocam companhia, é o grito dos pobres cada vez mais numerosos e abandonados, é o grito de quem precipita na angústia; e também é o grito do Evangelho e da pregação do Domingo. Pois bem, perante estes gritos até podemos acordar de sobressalto, mas se não tivermos a reserva de azeite, todas as desculpas são boas para não responder. E a reserva de azeite é o costume, ou se quisermos, o hábito, isto é, a constância de escutar e guardar no próprio coração a Palavra de Deus. Devemos estar treinados a escutar o Evangelho, para podermos escutá-l’O e compreendê-l’O também na Sua pressa. Se não tivermos os ouvidos habituados, nunca saberemos escutar nem responder ao grito dos pobres e nem sequer entrar numa vida cheia de sentido. Vivemos num tempo em que a escuridão parece ser cada vez maior e cerrada. E o sono da resignação parece ser sempre cada vez mais profundo. É preciso que as luzes voltem a resplandecer, que todos, pequenos e grandes, jovens e idosos, acendam a sua pequena chama da escuta do Evangelho, para vencerem a noite de uma vida avara e, muitas vezes, triste. Hoje, precisamos de um suplemento de azeite, de uma reserva de amor e de generosidade para que muitos possam entrar na sala do noivo para festejar.