IV do Advento Leia mais
Homilia
Estamos no último domingo do Advento. Jesus está à porta. Para O acolhermos, vale a pena transformarmos o nosso coração. Ele não é um teorema que deve ser aceite, mas uma criança que deve ser acolhida. Ele vem para ficar: e entrega-Se precisamente a ti. Devemos abrir as portas do coração e dar-Lhe espaço. Caso contrário, não há Natal. Não há Natal sem o nosso coração. Por isso temos de perguntar: que Natal estamos a preparar? Que Natal queremos para este mundo, marcado pelo medo e pela incerteza; que aceita a guerra e a injustiça; que é incerto e arrogante ao mesmo tempo; que afasta com facilidade e fastio os humildes; que quer tudo mas sem o risco do amor e da responsabilidade; que fecha as portas do coração e das casas? Um mundo que possui tanto, mas que está tão dilapidado e ocupado ao ponto de não deixar espaço a mais ninguém. Um mundo que se cansa depressa, que não quer ter problemas. Um mundo banal e egocêntrico que quer ter tudo para si. De facto, não nasce nada de novo na azáfama apressada do consumo. Não encontramos nada de novo ali. Então, onde está o Natal? Somos homens materiais e procuramos satisfazer os outros, oferecendo-lhes prendas. Mas queremos oferecer pouco da nossa vida! Pensamos pouco n’Aquele menino estrangeiro: pensamos que não vale nada, que é fraco, que não tem nada a ver connosco, que não tem nada para dar em troca. Quantas corridas para fazer as compras e quanto pouco espaço para procurarmos o verdadeiro amor! Na verdade, a grande prenda que devemos oferecer não são as coisas, mas o amor! E ele não se compra: acolhe-se, aprende-se juntamente com aquela Criança que pede para nascer.
Deus não escolhe os palácios importantes da vida social de Israel para nascer. Maria é uma pobre moça de Nazaré, uma pequeníssima aldeia da periférica Galileia. Escolheu-A para Se fazer homem, para Se fazer “carne”. Com Maria foi Natal, a começar do Seu coração que acolheu o Senhor. Desde então, é Natal quando Deus encontra abrigo no coração dos homens. Triste é a afirmação do evangelista quando anota que “não havia lugar para eles na hospedaria”. A casa que Deus procura é toda ela humana: “Sois Templo de Deus”, recordará o apóstolo. Aquele Menino não terá sossego, porque escolheu estar sempre connosco. Diz: “Já estou à porta e bato”. Se Lhe abrirmos a porta do coração, ficará connosco. “E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós”, escreve o evangelista João. Maria, a primeira a escutar a Palavra e a dar a própria disponibilidade, é a primeira casa de Deus, é a arca da aliança. Com Ela, a humanidade inteira torna-se na casa de Deus. Ao anjo que Lhe tinha aparecido, disse: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Maria não espera, não pede tempo. Não entendeu bem tudo, mas diz que sim na mesma. Não vê logo os frutos, não aceita porque teve provas: Ela dá espaço à Palavra de Deus. A prima Isabel dirá: “Bem-aventurada Aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor Lhe prometeu”. É a primeira bem-aventurança do Evangelho.
Abramos o nosso coração ao Evangelho e o mundo será libertado da inimizade e abrir-se-á ao amor. Assumamos a fraqueza de Deus e a dos homens para encontrar o amor que nunca acaba. Preparemos, mesmo fisicamente um lugar para quem não o tenha. Não deixemos ninguém sozinho! Natal é acolher aquele Menino e todo o pobre e desfavorecido como Ele. Isto é que é o Natal. Maria está diante de nós: imitemo-l’A para sermos livres de amar e para não nos tornarmos escravos de nós mesmos ou das coisas. Nada é impossível a Deus. Nada é impossível a quem acredita. E peçamos ao Senhor para fazer derreter a frieza do nosso coração, para vencermos os receios que nos bloqueiam, para nos libertar do omnipresente amor-próprio.
Vinde depressa Senhor para o nosso mundo cheio de temores e de violência. Vinde Senhor, ensinai-nos a reconhecer-Vos e a deixar-Vos espaço, para nascermos conVosco para uma nova vida.