II de Páscoa
Domingo da "Divina Misericórdia".
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Homilia
Este domingo é particularmente significativo neste ano jubilar da misericórdia. O Evangelho leva-nos para o fim da tarde do dia de Páscoa, no cenáculo. Jesus tinha passado quase todo o dia com dois discípulos, de quem não sabemos o nome, que regressavam tristes a Emaús, a aldeia deles. O Evangelho deste segundo domingo de Páscoa (Jo 20, 19-31) leva-nos ao anoitecer desse dia. O evangelista conta que, "estando fechadas as portas" do lugar onde se encontravam os discípulos, Jesus entrou e ficou no meio deles. Já o tinha dito durante a última ceia: "Voltarei para vós. Mais um pouco e o mundo não Me verá, mas vós ver-Me-eis, porque Eu vivo, e também vós vivereis" (Jo 14, 18-19). Mas não tinham compreendido ou, de qualquer modo, não tinham acreditado. A partir da tarde de Páscoa inicia para eles uma nova compreensão de Jesus. Eles vêem um Jesus diferente, ressuscitado, embora seja o mesmo de antes: no Seu corpo são evidentes os sinais dos pregos e a ferida da lança. Sinais que dizem que estamos no início da ressurreição (muitos são ainda hoje os corpos marcados por feridas e sofrimentos, que esperam uma ressurreição).
Jesus ressuscitado está ali, no meio dos Seus para lhes confiar a Sua própria missão: "Assim como o Pai Me mandou, também Eu vos envio a vós" (Jo 20, 21). Trata-se de uma única missão que parte do Pai e, por meio de Jesus, se transmite aos discípulos: é a missão de levar ao mundo a paz e o perdão. Foi uma tarde cheia de alegria para aqueles dez discípulos: tinham reencontrado o seu Senhor. Os dois de Emaús, regressando a Jerusalém ao anoitecer, aumentaram a alegria de todos. Porém Tomé, homem disponível e generoso, não estava presente; tinha dito que estava pronto para morrer por Jesus, apesar de depois, ter fugido com todos os outros. Quando os dez lhe disseram: "Nós vimos o Senhor!", Tomé arrefece o entusiasmo deles com a sua resposta: "Se não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus e se não meter a mão no seu lado, não acreditarei" (v. 25). Diz logo: se não vejo. Depois, acrescenta, uma vez que também os olhos podem trair (Tomé não quer certamente pertencer à numerosa turba dos videntes), uma prova física até mesmo um pouco brutal: meter o dedo na marca dos pregos e as mãos na larga ferida do peito. Tomé não aceita o Evangelho dos dez e fica, embora com as suas razões, triste e sem esperança.
Oito dias depois, precisamente como neste domingo, enquanto estão de novo juntos e Tomé está com eles, Jesus regressa. Mais uma vez, as portas continuam fechadas por medo; todos têm medo, incluindo Tomé: incredulidade e medo andam muitas vezes juntos. Jesus, depois de ter dirigido mais uma vez a saudação de paz, com os olhos procura logo Tomé, chama-o por nome e aproxima-se dele: "Chega aqui o teu dedo - diz-lhe - e vê as minhas mãos. Estende a tua mão e mete-a no meu lado. Não sejas incrédulo, mas crente" (cfr. v. 27). Tomé, perante Jesus ainda marcado pela cruz, não pode fazer outra coisa que confessar a sua fé: "Meu Senhor e meu Deus! ". E Jesus: "Acreditaste porque viste: felizes os que acreditam sem terem visto" (v. 29). É a proclamação da última bem-aventurança do Evangelho, aquela que está na base das gerações que desde então, se uniram ao grupo dos onze. A fé, a partir daquele momento não nasce da visão mas da escuta do Evangelho dos apóstolos. Narra uma antiga lenda que a mão direita de Tomé ficou, até à sua morte, vermelha de sangue. O Senhor, acolhendo a nossa pouca fé exorta-nos, tal como fez com Tomé, a sujarmos as mãos com as feridas dos homens, a aproximarmo-nos às situações atormentadas e abandonadas: a nossa incredulidade é assumida pelo Senhor e transformada em amizade e fonte de paz. A escuta do Evangelho e a caridade são os caminhos da nossa bem-aventurança.