Comunidade de Sant’Egidio, Associação Centro Astalli, Federação das Igrejas Evangélicas na Itália, Fundação Migrantes, Cáritas italiana, ACLI
Morrer de esperança
Oração ecuménica em memória das vítimas das viagens para a Europa
Presidida por Monsenhor António Maria Vegliò
Presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e itinerantes
Basílica de Santa Maria em Trastevere
Roma, 25 de Junho de 2009
Homilia do Arcebispo Monsenhor António Maria Vegliò |
Queridos amigos,
Estou contente por estar aqui convosco nesta Basílica de Santa Maria em Trastevere junto dos Representantes das várias Igrejas Cristãs para recordar homens e mulheres, crianças e jovens que, procurando refúgio mais seguro neste mundo, encontraram a morte ao longo da viagem. Infelizmente não são poucos. E eu sei que entre nós há quem perdeu um amigo, um familiar, um irmão ou irmã. Quantas dores, quantos sofrimentos. Graças às vossas informações podemos, esta noite, lembrar muitos por nome, como uma longa litania de nomes queridos, de pessoas que fizeram grandes esforços para sair da miséria, da opressão, da violência ou da guerra. Muitos deles morreram sem uma pessoa querida que lhe estivesse perto para os consolar, sem ninguém que pudesse rezar por eles e para dar-lhes uma digna sepultura. Reunimo-nos esta tarde sendo muitos, homens e mulheres provenientes de diferentes Países, pertencentes a religiões diferentes, unidos pelo desejo de dirigir uma oração ao Senhor para eles e dar-lhes um lugar nos nossos corações e no coração desta cidade. Agradeço a Comunidade de Sant’Egidio, que, juntamente com as outras associações, quis esta vigília de oração na comemoração da Jornada Mundial dos Refugiados, promovida pelas Nações Unidas. O título desta Vigília “ Morrer de esperança” evoca o drama que nós lembramos hoje: muitos encorajados pela esperança de alcançar uma terra acolhedora, puseram-se em caminho, mas durante a viagem longa e terrível encontraram a morte. Como Zaher Rezai, um jovem afegão de 13 anos, que há alguns meses atrás foi esmagado pelas rodas de um camião sobre o qual tinha-se amarrado para escapar dos controles do Porto de Veneza. Numa poesia, que foi depois encontrada um dos seus bolsos, ele escreve “ Tanto naveguei, dia e noite sobre o barco do teu amor. Que ou conseguirei finalmente a amar-te ou morrerei afogado. Oh, meu Deus, que dor reserva o instante de espera, mas promete-me, Deus, que não deixarás acabar a minha primavera...
Por ocasião da Jornada mundial dos refugiados de 2009 ACLI, Associação dos Centros Astalli, Cáritas Italiana, Comunidade de Sant’Egidio, Federação das Igrejas Evangélicas na Itália, Fundação Migrantes, pelo terceiro ano consecutivo, organizam uma vigília ecuménica em memória das vítimas das viagens para Europa onde partecipam comunidades e associações dos imigrados, refugiados e organizações de voluntariados.
Dados fidedígnos observam que nos primeiros quatro meses de 2009, morreram no Canal de Sicilia 339 pessoas. Durante todo o ano de 2008 as pessoas que morreram foram 642.Desde 1988 as mortes documentadas pela imprensa internacional foram de 14.661 pessoas, entre elas contam-se 6.327 desaparecidos. Rezar para estes homens e mulheres quer dizer acender os reflectores sobre uma situação que agrava-se cada vez mais.
Dados fidedígnos observam que nos primeiros quatro meses de 2009, morreram no Canal de Sicilia 339 pessoas. Durante todo o ano de 2008 as pessoas que morreram foram 642.Desde 1988 as mortes documentadas pela imprensa internacional foram de 14.661 pessoas, entre elas contam-se 6.327 desaparecidos. Rezar para estes homens e mulheres quer dizer acender os reflectores sobre uma situação que agrava-se cada vez mais.
As notícias das últimas semanas sobre as rejeições no mar por parte do governo italiano para a Líbia são fontes de grave preocupação. As centenas de pessoas entre elas mulheres e crianças, para além de terem arriscado a vida numa viagem no limite da realidade, são acompanhadas- contra as principais normas do direito internacional e do mar- num País que não garante o respeito dos fundamentais direitos humanos. Do paradeiro da maior parte deles não há, infelizmente, informações.
Esquecer, remover, resignar-se à normalidade das tragédias dos imigrados quer dizer deixar morrer mais uma outra vez as vítimas em viagem para a Europa:“as vítimas da esperança”.