Há sempre a possibilidade de mudar, estamos a tempo de reagir e transformar, modificar e alterar,

converter aquilo que nos está a destruir como povo, o que nos está a degradar como humanidade.

A misericórdia sempre rejeita o mal, tomando muito a sério o ser humano; sempre faz apelo à bondade de cada pessoa, mesmo que esteja adormecida, anestesiada. Longe de aniquilar, como muitas vezes pretendemos ou queremos fazê-lo, a misericórdia aproxima-se de cada situação para a transformar a partir de dentro. Isto é precisamente o mistério da misericórdia divina: aproxima-se e convida à conversão, convida ao arrependimento; convida a ver o dano que está a ser causado a todos os níveis. A misericórdia sempre entra no mal para o transformar. É o mistério de Deus nosso Pai: envia o seu Filho que penetrou no mal, fez-Se pecado para transformar o mal. Esta é a sua misericórdia.

O rei ouviu, os habitantes da cidade reagiram e foi decretado o arrependimento. A misericórdia de Deus entrou no coração, revelando e manifestando algo que é a nossa certeza e a nossa esperança: há sempre a possibilidade de mudar, estamos a tempo de reagir e transformar, modificar e alterar, converter aquilo que nos está a destruir como povo, o que nos está a degradar como humanidade. A misericórdia anima-nos a olhar o presente e confiar naquilo que, de são e bom, está escondido em cada coração. A misericórdia de Deus é o nosso escudo e a nossa fortaleza.

Jonas ajudou a ver, a tomar consciência. Que se passa depois? O seu apelo encontra homens e mulheres capazes de se arrependerem, capazes de chorar: deplorar a injustiça, deplorar a degradação, deplorar a opressão. São as lágrimas que podem abrir o caminho à transformação; são as lágrimas que podem abrandar o coração, são as lágrimas que podem purificar o olhar e ajudar a ver a espiral de pecado em que muitas vezes se está enredado. São as lágrimas que conseguem sensibilizar o olhar e a atitude endurecida, e sobretudo adormecida, perante o sofrimento alheio. São as lágrimas que podem gerar uma ruptura capaz de nos abrir à conversão. Foi assim com Pedro, depois de ter renegado Jesus; chorou e as lágrimas abriram-lhe o coração.

 

Da homilia dio Papa Francisco na missa em Ciudad Juárez, México, a 17 de Fevereiro de 2016