XXII do tempo comum
Memória de Sant'Egidio, monge do Oriente vindo para o Ocidente.Viveu em França e tornou-se pai de muitos monges. A Comunidade de Sant'Egidio tomou o nome da igreja a ele dedicada em Roma. Recorda-se o início da segunda guerra mundial: oração pelo fim de todas as guerras. A Igreja ortodoxa inicia o ano litúrgico.
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Homilia
“A mente sábia medita a parábola”, afirma o Eclesiástico (3, 28). É o que todos nós desejamos fazer neste domingo, depois de termos escutado as duas parábolas citadas por Jesus. Elas são propostas nesta liturgia que vê o regresso à vida normal, depois das férias. É sempre bom meditar a parábola, sobretudo no momento em que se retoma o caminho: “A tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho” canta o salmo (Sl 119, 105). O Evangelho apresenta Jesus que convidado a almoçar em casa de um chefe dos fariseus, observa os hóspedes que se precipitam para escolher os melhores lugares. É uma situação que nos é certamente familiar se bem que, talvez por temor ou por educação, nunca nos viu como protagonistas estultos. E, no entanto, não estamos assim tão longe dos hábitos censurados pelo Evangelho. E Jesus, que lê no profundo dos corações, vê-nos hoje, provavelmente a correr para apanhar os primeiros lugares, tal como aqueles convidados de que fala o Evangelho. Mas a questão não é a de tentar apanhar a poltrona mais bonita ou a primeira fila. Pode-se escolher o primeiro lugar ficando na última fila ou na última cadeira. Na verdade, a escolha da primeira fila refere-se ao coração e não às cadeiras. Escolher os primeiros lugares significa colocar-se a si mesmo diante de tudo; é querer subjugar tudo à nossa vontade; é pretender ser servido em vez de servir; ser honrado em vez de ser disponível; ser amado antes de amar. Escolher o primeiro lugar, significa antepor-se a si mesmo a qualquer coisa. Compreende-se perfeitamente que não se trata de cadeiras, mas de estilo de vida.
Jesus condena este comportamento. Não ajuda, antes pelo contrário, até é prejudicial porque nos torna concorrentes e inimigos uns dos outros, condenando-nos a uma vida feita de denúncias, empurrões, invejas, abusos. Não é questão de galanteio ou de boas maneiras. Jesus vai ainda mais além; quer colher o conceito que cada um tem de si mesmo. E a lição é clara: quem julga que é justo e pensa poder estar de cabeça erguida e merecer o primeiro lugar à frente dos outros, ouvirá: “Dá o lugar a este!” (v. 9) e deverá recuar cheio de vergonha. É um bem então, envergonhar-se da própria soberba e da indulgência que cada um tem para consigo mesmo, muito antes de apanhar o lugar. É bom envergonhar-se diante de Deus pelo próprio pecado, sem que este leve à depressão, pois “só Deus é bom”. A Sagrada Liturgia sugere-nos esta atitude quando, no início, nos faz invocar por três vezes: “Senhor, piedade”. E o Senhor aproxima-se a cada um de nós e exorta: “Amigo, vai mais para a frente!”; “amigo, vem, escuta a Minha Palavra, saboreia o Meu pão e bebe do Meu cálice”. É verdade! Quem se humilha e pede perdão, quem abaixa a cabeça diante do Senhor, será exaltado. O Senhor não suporta os soberbos e não tolera os egoístas. Ele é o “Pai dos humildes”. “Meu filho - exorta o livro do Eclesiástico - sê modesto na tua actividade, e serás mais estimado que um homem generoso. Quanto mais importante fores, mais humilde deverás ser, e encontrarás favor diante do Senhor. Pois, o poder do Senhor é grande, mas Ele é glorificado pelos humildes” (Eclo 3, 17-20). E a primeira Carta de Pedro exorta os cristãos “revesti-vos de humildade no relacionamento mútuo, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graças aos humildes” (5, 5). A humildade não tem nada a ver com a humilhação. A humildade é reconhecer que só Deus é grande, só Deus é bom, só Deus é misericordioso. Nenhum de nós é bom por carácter ou por natureza. Antes pelo contrário, somos egoístas. A bondade é fruto da conversão, da escuta da Palavra de Deus, da prática da caridade.
O humilde compreende, sabe amar, sabe ser irmão ou irmã, sabe rezar, sabe ser humano, sabe mover as montanhas mais altas e sabe colmatar os abismos mais profundos. O humilde realiza a outra parábola evangélica: “Quando deres um almoço ou jantar, não convides amigos, nem irmãos,..., porque eles irão, por sua vez convidar-te. E isso será para ti uma recompensa. Pelo contrário,... convida pobres, aleijados, coxos e cegos; então serás feliz, porque eles não te podem retribuir” (vv. 12-13). Num mundo onde tudo é comercializado, em que o do ut des é a lei férrea que regula qualquer comportamento, as palavras de Jesus são deveras uma boa notícia, o anúncio da gratuitidade, do gesto feito por amor e desinteressado. Daqui nasce uma nova e mais ampla solidariedade. Nós, discípulos humildes, que faremos este ano? Qual é o empenho que procuraremos levar adiante? A função que nos é confiada é a de preparar e servir o banquete do amor, de amar a todos e, sobretudo, os mais pobres.