IV de Quaresma
Aniversário da inauguração do ministério pastoral do Papa Francisco.
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IV de Quaresma
Aniversário da inauguração do ministério pastoral do Papa Francisco.
Primeira Leitura
I Samuel 16,1.4.6-7.10-13
O Senhor disse a Samuel: «Até quando chorarás Saul, tendo-o Eu rejeitado para que não reine em Israel? Enche o teu chifre de óleo e vai. Quero enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos.» Samuel respondeu: «Como hei-de ir? Se Saul souber, irá tirar-me a vida.» Fez Samuel como o Senhor ordenara.
Ao chegar a Belém, os anciãos da cidade saíram-lhe ao encontro, inquietos, e disseram: «É de paz a tua vinda?»
Salmo responsorial
Salmo 22 (23)
Salmo de David.
O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Em verdes prados me faz descansar
e conduz-me às águas refrescantes.
Reconforta a minha alma
e guia-me por caminhos rectos, por amor do seu nome.
Ainda que atravesse vales tenebrosos,
de nenhum mal terei medo
porque Tu estás comigo.
A tua vara e o teu cajado dão-me confiança.
Preparas a mesa para mim
à vista dos meus inimigos;
ungiste com óleo a minha cabeça;
a minha taça transbordou.
Na verdade, a tua bondade e o teu amor
hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.
Segunda Leitura
Efésios 5,8-14
É que outrora éreis trevas, mas agora sois luz, no Senhor. Procedei como filhos da luz - pois o fruto da luz está em toda a espécie de bondade, justiça e verdade - procurando discernir o que é agradável ao Senhor. E não tomeis parte nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, denunciai-as. Porque o que por eles é feito às escondidas, até dizê-lo é vergonhoso. Mas tudo isso, se denunciado, é posto às claras pela luz; pois tudo o que é posto às claras é luz. Por isso se diz:
«Desperta, tu que dormes,
levanta-te de entre os mortos,
e Cristo brilhará sobre ti».
Leitura do Evangelho
Louvor a Vós, Ó Senhor, Rei de eterna glória
Ontem fui sepultado com Cristo,
hoje ressuscito convosco que ressuscitastes;
convosco fui crucificado,
recordai-vos de mim, Senhor, no vosso Reino.
Louvor a Vós, Ó Senhor, Rei de eterna glória
São João 9,1-41
Ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe, então: «Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais?» Jesus respondeu: «Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus. Temos de realizar as obras daquele que me enviou enquanto é dia. Vem aí a noite, em que ninguém pode actuar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.» Dito isto, cuspiu no chão, fez lama com a saliva, ungiu-lhe os olhos com a lama e disse-lhe: «Vai, lava-te na piscina de Siloé» - que quer dizer Enviado. Ele foi, lavou-se e regressou a ver. Então, os vizinhos e os que costumavam vê-lo antes a mendigar perguntavam: «Não é este o que estava por aí sentado a pedir esmola?» Uns diziam: «É ele mesmo!» Outros afirmavam: «De modo nenhum. É outro parecido com ele.» Ele, porém, respondia: «Sou eu mesmo!» Então, perguntaram-lhe: «Como foi que os teus olhos se abriram?» Ele respondeu: «Esse homem, que se chama Jesus, fez lama, ungiu-me os olhos e disse-me: ‘Vai à piscina de Siloé e lava-te.' Então eu fui, lavei-me e comecei a ver!» Perguntaram-lhe: «Onde está Ele?» Respondeu: «Não sei.» Levaram aos fariseus o que fora cego. O dia em que Jesus tinha feito lama e lhe abrira os olhos era sábado. Os fariseus perguntaram-lhe, de novo, como tinha começado a ver. Ele respondeu-lhes: «Pôs-me lama nos olhos, lavei-me e fiquei a ver.» Diziam então alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado.» Outros, porém, replicavam: «Como pode um homem pecador realizar semelhantes sinais miraculosos?» Havia, pois, divisão entre eles. Perguntaram, então, novamente ao cego: «E tu que dizes dele, por te ter aberto os olhos?» Ele respondeu: «É um profeta!» Ora os judeus não acreditaram que aquele homem tivesse sido cego e agora visse, até que chamaram os pais dele. E perguntaram-lhes: «É este o vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Então como é que agora vê?» Os pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; mas não sabemos como é que agora vê, nem quem foi que o pôs a ver. Perguntai-lhe a ele. Já tem idade para falar de si.» Os pais responderam assim por terem receio dos judeus, pois estes já tinham combinado expulsar da sinagoga quem confessasse que Jesus era o Messias. Por isso é que os pais disseram: ‘Já tem idade, perguntai-lhe a ele'. Chamaram, então, novamente o que fora cego, e disseram-lhe: «Dá glória a Deus! Quanto a nós, o que sabemos é que esse homem é um pecador!» Ele, porém, respondeu: «Se é um pecador, não sei. Só sei uma coisa: que eu era cego e agora vejo.» Eles insistiram: «O que é que Ele te fez? Como é que te pôs a ver?» Respondeu-lhes: «Eu já vo-lo disse, e não me destes ouvidos. Porque desejais ouvi-lo outra vez? Será que também quereis fazer-vos seus discípulos?» Então, injuriaram-no dizendo-lhe: «Discípulo dele és tu! Nós somos discípulos de Moisés! Sabemos que Deus falou a Moisés; mas, quanto a esse, não sabemos donde é!»
Replicou-lhes o homem:
Louvor a Vós, Ó Senhor, Rei de eterna glória
Ontem fui sepultado com Cristo,
hoje ressuscito convosco que ressuscitastes;
convosco fui crucificado,
recordai-vos de mim, Senhor, no vosso Reino.
Louvor a Vós, Ó Senhor, Rei de eterna glória
Homilia
Este domingo é chamado laetare (alegria) da primeira palavra do cântico de entrada da liturgia. É uma exortação a interrompermos por um momento, a severidade do tempo quaresmal. A letícia que é sugerida não provém decerto da situação em que se encontra o mundo neste momento. Antes pelo contrário, é difícil encontrar motivos para nos alegrarmos: quantos conflitos ensanguentam mais uma vez a Terra! E quantos pobres estão abandonados! A razão da alegria não provém do mundo mas da aproximação da Páscoa que transforma a morte em vitória, a tristeza em letícia. A alegria do cego de nascença que adquire a visão é a alegria que a Liturgia nos pede. Era cego de nascença e vivia sentado na beira da estrada a pedir esmola: tinha - como se costuma dizer - o destino traçado. Mal Jesus o viu, parou. Os discípulos perguntaram-Lhe: "Mestre, quem foi que pecou, para que nascesse cego? Foi ele ou seus pais?". Aquele cego, para os discípulos, era um caso sobre o qual urdir uma disputa. Mas Jesus olha para aquele cego com os olhos do coração e responde: "Não foi ele que pecou, nem seus pais". Jesus mostra como nos devemos colocar diante daquele cego e de todos os pobres, os que sofrem, os doentes: olhar com compaixão. Comovido, Jesus olha para ele, aproxima-Se dele e toca-lhe com um gesto cuidado, não distraído: abaixa-Se para apanhar um pouco de argila e, humedecendo-a com a saliva, coloca-a nos olhos dele. É a mão de Deus que plasmou o homem na Criação e que continua a regenerá-lo. Aquela cinza, aquele pó com que iniciámos a Quaresma é amada por Deus. Ou melhor, é a razão que comove o Senhor, que O induz a debruçar-Se sobre nós. Ama-nos porque somos frágeis, ama-nos porque somo pó. E quando Jesus lhe disse para se ir lavar na piscina de Siloé, imediatamente obedeceu e dirigiu-se para a piscina para se lavar. O evangelista, com uma rapidíssima síntese, escreve: "foi, lavou-se e voltou vendo". O milagre não era um gesto mágico: realizou-se através daquele gesto de ternura da mão de Jesus juntamente com a obediência daquele cego à palavra que lhe tinha sido dirigida. Este processo de cura é uma indicação também para nós, muitas vezes cegos não de nascença, mas por estarmos habituados a olhar só para nós mesmos. Ou seja, cegos porque resignados. O Senhor vem para "abrir os olhos aos cegos", para abrir os nossos olhos sobre a triste condição do mundo e a levá-los a vislumbrar a salvação, um mundo justo e pacífico. Neste trecho, o evangelista repete sete vezes a frase "abrir os olhos". Uma repetição não casual. Provavelmente, indica a facilidade com que podemos voltar a cair na cegueira. Aliás, não é suficiente sermos tocados uma só vez, ou seja, ouvir e obedecer uma só vez. O Senhor - como fez com aquele cego - continua a fazer-nos perguntas novas, a pedir-nos compromissos novos: são pedidos de amor, de crescimento para O seguir. Àquele cego, já curado, pergunta: "Tu crês no Filho do Homem?". Jesus procura amigos para serem amados e companheiros com quem transformar o mundo. Aquele cego respondeu: "E quem é, Senhor, para eu crer n'Ele?". É a pergunta da Quaresma: conhecer melhor Jesus, olhar mais para o Seu rosto, deixar-se tocar mais pelo Seu amor. O Evangelho continua a dizer-nos: "É Aquele que está a falar contigo". Nós, juntamente com aquele cego, repetimos: "Eu acredito, Senhor!". É a nossa profissão de fé de homens e de mulheres amados e curados, que se põem de novo a seguir o Senhor para mudar este mundo e torná-lo mais justo, mais fraterno.