O grande serviço de paz da escola: onde se aprende a viver juntos. Editorial de Marco Impagliazzo

 

A guerra, faz quase dois meses que dramaticamente recomeçou na Europa, desmente mais uma vez a ideia de «fim da história» que se tinha criado depois da queda do sistema soviético em 1989. A queda do Muro deu início, pela primeira vez, à perspectiva de que existiria uma única humanidade. Podia-se sonhar com um mundo onde não existiriam inimigos, um mundo sem guerras.

A globalização é interdependência, mas devido ao seu carácter aberto, também é «sociedade global de risco», come sublinhou Ulrich Beck. É aprender a viver com o caos, com os imprevistos da história. O politólogo americano, Fareed Zakaria, escreveu: «O sistema global onde vivemos é aberto e dinâmico, o que significa que possui poucos amortizadores, isso gera grandes benefícios, mas também vulnerabilidade. Temos que nos adaptar à realidade de uma instabilidade sempre maior, e temos que o fazer agora».

Afinal, come entendeu e explicou muito bem Zygmunt Bauman, o nosso é um tempo líquido, e as sociedades onde vivemos são compostas por “mônadas” – pessoas sozinhas, muitas vezes autoreferentes, sem ligações fortes – que temem e juntas se lamentam das âncoras e das redes que tinham no passado mas perderam.

Aqui entra em jogo a capacidade de construir percursos de resiliência e de consolidação. Um dos lugares fundamentais onde já se estão a definir esses percursos, e onde serão implementados outros novos, é a escola. As crianças, os adolescentes e os jovens manifestam uma capacidade de “resiliência positiva”, uma dinâmica associativa natural que seria conveniente apoiar. A atitude que favorece a formação da resiliência está presente na idade mais verde e é um aspecto importante da pedagogia. Nos dias de hoje, diante da guerra, mas também do novos desafios criados pela globalização e pela modernidade líquida, tem de ser re-descoberta com inteligência e promovida com tenácia.

Entre guerra e globalização descobre-se o verdadeiro grande desafio, o de viver juntos. As migrações mudaram profundamente a fisionomia das cidades europeias e não só. Em pequenos espaços concentram-se grandes diversidades, de cultura, estilo de vida, religião. O diferente vive na porta ao lado, no mercado do bairro, na ala do hospital, na prisão, nas salas de aula, nos serviços sociais do território.

Nas periferias europeias, de Bruxelas a Barcelona, de Paris a Berlim, a condição dos imigrados e dos seus filhos torna-se difícil sob o peso das recorrentes ondas de hostilidade. É preciso prevenir a violência. No mundo de hoje, aprender a viver juntos é cada vez mais o rosto da paz. Os nacionalismos não cairam em desuso, o impulso a recorrer à força para resolver os problemas internacionais não está sob controlo, pequenos confrontos civis ainda acontecem nos nossos bairros. Eis a razão porque, depois de tantos anos e de mudanças sociais e económicas profundas, o empenho em educar os mais jovens para uma convivência pacífica tem de ser reforçado.

A escola na Itália e na Europa encontra-se a enfrentar problemas velhos e novos, mas a necessidade de lugares onde se “ensine” a paz aumentou. Se nos limitar-mos à península italiana, a importância que a mais recente normativa deu à educação para a cidadania, e a sua evidente transversalidade, podem ser um sinal importante dirigido ao pessoal docente para que entre os programmas e as atividades se encontre um modo de educar à convivencia na diversidade e ao reconhecimento do outo.

A educaçao para a paz pode ser, assim, um quadro de referência geral, complementar, capaz de incluir todas as disciplinas, de informar dos objectivos, tanto expressivos como comportamentais, que sejam definidos a nível escolar. E poderá ser muito útil unir a educação à paz feita “na escola” com outras iniciativas levadas a cabo por outros sujeitos, tanto institucionais como não formais.

Por exemplo, reforçando aquela colaboração entre escola e território que já começou em muitos institutos escolares com os “Percursos para as Competências transversais e a Orientação”.

Uma escola de paz e para a paz é na realidade o melhor modo para nos orientarmos para um futuro que se apresenta cheio de obstáculos ao viver juntos

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[ Marco Impagliazzo ]