XXXIII do tempo comum Leia mais
Homilia
A par?bola dos talentos come?a falando de um homem que antes de partir, convoca os tr?s empregados e entrega-lhes os seus bens. A sua confian?a neles ? absoluta, tanto ? verdade que confia a cada um, uma grande soma de dinheiro. O talento correspondia a mais de 20 quilos de prata, portanto, era um valor deveras relevante. Essa consist?ncia manifesta a import?ncia do encargo que o patr?o confia aos tr?s empregados. Pois bem, ao primeiro, confia a gest?o de cinco talentos, um verdadeiro patrim?nio. Ao segundo, entrega dois e ao terceiro, um. A entrega, como se v?, ? pessoal e respeita as diferentes capacidades de cada um. Portanto, n?o estamos perante uma an?nima homologa??o: o patr?o conhece a habilidade de cada um dos seus empregados e respeita-a. Entre a partida e o regresso do patr?o, os tr?s empregados devem fazer render o que lhes foi confiado. ? claro que eles n?o s?o os propriet?rios, mas apenas administradores. Na verdade, quando regressar?, o patr?o pedir-lhes-? contas de como administraram o que lhes foi confiado. O primeiro empregado duplica o capital investindo os seus talentos. N?o ? um acaso que o evangelista escreve que ?logo? o primeiro empregado come?ou a trabalhar, como que a indicar o forte empenho e, portanto, a responsabilidade que sente pelos interesses do patr?o. O mesmo sucede com o segundo. O terceiro, pelo contr?rio, cava um buraco na terra e esconde o talento recebido. Devemos notar que o facto de ter enterrado o talento n?o ? um epis?dio assim t?o estranho; corresponde a um ditame da jurisprud?ncia rab?nica segundo o qual quem, depois da entrega, enterra um penhor ou um dep?sito, fica livre de qualquer responsabilidade.
Com o regresso do patr?o, o primeiro empregado apresenta-se e ? louvado e recompensado. O segundo aproxima-se e tamb?m ele apresenta o dobro daquilo que tinha recebido, sendo tamb?m ele recompensado. O terceiro aproxima-se e entrega ao patr?o aquele ?nico talento que tinha recebido. E justifica tamb?m o motivo desse seu comportamento: tinha medo de um patr?o t?o severo e queria, portanto, salvaguardar-se, seguindo estritamente o ditame jur?dico. Aquele talento, aqueles talentos, s?o a vida, n?o a vida abstracta mas aquela concreta, a de todos os dias, feita de rela??es entre n?s e o mundo. Tudo ? entregue ? responsabilidade de cada um de n?s para que o possamos fazer frutificar. E a cada um de n?s ? dado conforme as nossas capacidades. Isto significa que na vida, n?o h? uma medida igual para todos, mas tamb?m que ningu?m ? incapaz de fazer frutificar a vida que tem; ningu?m pode apresentar desculpas (a mentalidade, o car?cter, a pr?pria doen?a e o enfraquecimento...) para se subtrair ? responsabilidade de empregar a pr?pria vida fazendo-a frutificar. Antes pelo contr?rio, ? frequente que a fa?amos frutificar s? para n?s, que a utilizemos s? para o nosso interesse, para a nossa seguran?a, para a nossa pr?pria tranquilidade e nada mais. Foi o que fez o terceiro empregado: enterrou o talento para ter ?paz e seguran?a?, como escreve o ap?stolo na carta aos Tessalonicenses.
O terceiro empregado tinha a lei do seu lado que o eximia de qualquer responsabilidade e, sobretudo, dos riscos do empenho. A par?bola adverte que, na verdade, este empregado preferiu esconder a pr?pria vida num buraco, numa avara e ego?stica tranquilidade. E, provavelmente, ? aqui que est? o medo: medo n?o tanto do patr?o, quanto de perder a pr?pria tranquilidade avarenta. Com esta par?bola, Jesus revela por um lado, a ambiguidade daquele que se contenta daquilo que ?, sem nenhum desejo de mudar, sem nenhuma aspira??o de transformar a vida e, porque n?o, nenhuma ambi??o para que a vida de todos seja mais feliz. Por outro lado, mostra que o Reino do C?u inicia precisamente quando cada um de n?s, grande ou pequeno que seja, forte ou fraco que seja, n?o se fecha na sovinice e na mesquinhez de si mesmo, mas abre-se ? vida, ao empenho para mudar o pr?prio cora??o, ao desejo operoso que a vida dos mais fracos seja ajudada, que este nosso mundo esteja mais perto do Evangelho. ? assim que a nossa vida ser? multiplicada, a nossa fraqueza ser? fortificada, a nossa pobreza ser? transformada em riqueza, a nossa alegria ser? plena: ?Muito bem, empregado bom e fiel... foste fiel na administra??o de t?o pouco, eu confiar-te-ei muito mais; vem participar da minha alegria?.