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Festa do Corpo e do Sangue de Cristo Leia mais

Libretto DEL GIORNO
Domingo, 2 de Junho

Homilia

Naquela tarde em Emaús, da boca de dois discípulos, confortados na sua tristeza por um forasteiro que se tornara companheiro de viagem deles, saiu aquela simples e esplêndida invocação: “Fica connosco, pois já é tarde” (Lc 24, 29). Desde então, aquele forasteiro, ficou sempre com os homens. Tornou-Se companheiro do caminho deles ao longo da história. Enquanto os discípulos de todas as nações encaminhavam-se pelas mais diferentes veredas do mundo, Ele estava entre eles para os confortar e ensinar e, porque não, também para corrigir, cortar e dissolver durezas e incompreensões. Multiplicaram-se as casas dos discípulos e Jesus em cada uma delas continua a tomar o pão e a parti-lo por todos. Aquele pão partido tornou-se alimento e sustento no caminho dos crentes. Neste sentido a festa do Corpo e Sangue de Cristo, embora instituída pela Igreja doze séculos depois daquela ceia de Emaús, afunda as suas raízes justamente nesses dias. Ou melhor: esta festa, coloca-se entre o cenáculo de Jerusalém e o de Emaús que encerram a morte e a ressurreição do Senhor.
A liturgia deste domingo volta a propor-nos, com a narração da Última Ceia feita por Paulo aos Coríntios, aquelas palavras tão fortes e concretas: “Este é o meu corpo”, “Este é o meu sangue”. É na verdade, o mistério da fé, precisamente como nós dizemos na Liturgia Eucarística logo depois da consagração. E é um mistério grande, não tanto no sentido de que não se compreende. Com efeito, mais do que uma realidade misteriosa no campo do conhecimento intelectual, trata-se de um incrível sinal de amor do Senhor. É o mistério de uma presença contínua e muito especial. Digo muito especial, porque Jesus não só está realmente presente (o que já é uma grande coisa) na Eucaristia, mas está também presente como corpo “partido” e como sangue “derramado”. No entanto, não está presente de qualquer maneira, mas na Sua dimensão de amigo que dá a vida por aqueles que Ele ama. Neste sentido, a festa do Corpus Domini é a festa de um corpo que pode mostrar as feridas, a festa de um corpo do cujo costado saem “sangue e água” como anota o apóstolo João.
Na tradição desta festa, ainda viva em muitos lugares, a Eucaristia atravessa as estradas das cidades e das aldeias muitas vezes enfeitadas com flores para a passagem do Senhor. É justo festejar. De facto, todos nós precisamos que continue a passar nas nossas ruas alguém que não veio para ser servido, mas para servir, até dar a própria vida por muitos. Mas, atenção, o Senhor só pode vir sob a aparência de um forasteiro (como aconteceu com os discípulos de Emaús), isto é, na forma de uma cara nova, que está fora das nossas relações, que não pensa como nós. Vem de fora. O Seu próprio corpo está presente no meio de nós de forma diferente do nosso. Nós dedicamos muita atenção e preocupação ao nosso corpo: Ele, pelo contrário, está presente com um corpo “partido”. Nós tendemos a defender-nos com mil cuidados e com todos os meios: Ele passa entre nós derramando todo o Seu sangue. Aquela Hóstia é uma contínua contestação (neste sentido é “alheia”) ao nosso modo de viver, às atenções tão cuidadosas para com o nosso bem-estar, ao nosso fugir da fadiga e de qualquer gravosa responsabilidade. Enfim, cada um de nós tenta poupar-se quando se trata de se dar pelo próximo. O Senhor, naquela Hóstia, mostra-Se precisamente numa concepção oposta. Bem-haja, então, a procissão do Corpus Domini! Que atravesse as nossas ruas, não apenas para receber um tributo exterior de festa, mas para que possa atravessar os nossos corações e torná-los semelhantes ao coração de Jesus. O destino da Palavra do Senhor, que é “mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes” (Hb 4, 12), é o mesmo do Seu corpo: é-nos dado para que nos transformemos n'Ele. É o que diz Paulo: o Senhor tornou-Se alimento para os homens, para que todos nós fossemos transformados num só corpo, o de Cristo; porque temos os mesmos sentimentos de Cristo.
Há então, uma ulterior consideração a fazer, ligada ao Evangelho da multiplicação dos pães. Todos os dias, os nossos caminhos são percorridos pelas procissões do Corpus Domini, mesmo que não se enfeite o percurso e não se deitem flores (mas há quem espalhe indiferença, quando não insultos!). Trata-se das procissões dos pobres, dos da nossa terra, dos que vêm de fora e dos muitíssimos que estão longe de nós. Todos eles são o “corpo de Cristo” e continuam a percorrer as ruas das nossas cidades e do mundo sem que ninguém cuide deles. Parece-me decisiva a advertência de São João Crisóstomo: “Se quiserem homenagear o corpo de Cristo, não o desdenhem quando estiver nu. Não homenageiem Cristo eucarístico com paramentos de seda, enquanto fora do templo desdenhais aquele outro Cristo que sofre pelo frio e pela nudez”. Os dois são o verdadeiro corpo de Cristo. E Cristo não está dividido, a menos que não O dividamos nós.

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