Refugiados, Riccardi: Convocar um Sínodo ecumênico dos cristãos europeus. Não aos muros, acolher é um dever

O fundador de Sant'Egidio na "Famiglia Cristiana": "Convocar brevente um Sínodo ecumênico dos cristãos europeus. As Igrejas não podem ficar prisioneiras das lógicas institucionais
ou das políticas dos seus países. Não aos muros: o acolhimento é um dever"

O fundador da Comunidade de Sant'Egidio Andrea Riccardi - sublinhando a forte mensagem de acolhimento àqueles que batem às portas da Europa, representada pela visita do próximo sábado, em Lesbo do Papa Francisco, do patriarca de Constantinopla e do Arcebispo de Atenas - lança, no artigo em "Famiglia Cristiana", a ideia de um Sínodo ecumênico dos cristãos europeus sobre a questão dos refugiados: "As Igrejas da Europa não podem ficar prisioneiras das lógicas institucionais ou das políticas dos seus Países, sem uma visão do futuro. Pergunto-me se este não é o momento para uma convocatória dos cristãos europeus, um Sínodo ecumênico para resolver a questão essencial dos refugiados e a Europa".
Para Riccardi, que recordou as palavras do Papa Francisco contra os "muros", o acolhimento aos imigrantes "é um dever", mas também "um dom" para a grave crise demográfica na Europa.

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Andrea Riccardi

 

 

A Europa e os refugiados, convocar um Sínodo ecuménico dos cristãos europeus

O PAPA EM LESBO
Chegou o momento de uma convocatória aos cristãos europeus para abordar a grande questão dos refugiados

Num país pequeno, caiu um peso imenso. Enquanto, começando com a Hungria Católica, se levantam muros para se defender contra os refugiados.
Lesbo é o nome de uma tragédia: os refugiados chegam às ilhas gregas para escapar da guerra. O caso mais conhecido é a Síria, cuja refugiados migraram para o Líbano, Turquia e Jordânia. A Grécia é o primeiro porto de escala para quem chega à Europa. Em Lesbo, de 90.000 habitantes, existem, de 7 a 10 mil refugiados. Grécia - deve-se dizer - apesar da crise é generosa para com eles. O Governo faz a sua parte. Muito activa no acolhimento  é a Igreja Ortodoxa Grega, ajudada pelo arcebispo de Atenas, Hieronimos II, com uma obra coordenada pelo Metropolita Gabriel.
O Papa Francisco, em setembro de 2015, pediu a cada paroquia Europeia para que acolhesse refugiados. O apelo não teve a resposta que merecia. Também em Setembro, numa mensagem ao encontro no Espírito de Assis, em Tirana, o Papa disse: "É violência também erguer muros para bloquear aqueles que procuram um lugar de paz. É violência rejeitar quem foge de condições desumanas".
Agora Francisco da um passo muito forte. Vai para Lesbo a 16 de Abril. Acompanhado pelo arcebispo de Atenas e as autoridades gregas. Há também o Patriarca Ecuménico Bartolomeu, que tem jurisdição eclesiástica na ilha. Surgiu dele a ideia de convidar o Papa a Lesbo.
O problema dos refugiados é abordado ecumenicamente. A iniciativa dos corredores humanitários para refugiados do Líbano para Itália foi promovido pelos Valdenses e pela Comunidade de Sant'Egidio com o governo italiano. Francisco mostra como o drama dos refugiados interpele a consciência cristã europeia. Os refugiados são pobres que batem às nossas portas. Não podem voltar para traz: tem às costas o estar à beira da morte. Acolhe-los é um dever, mas também um "presente" para l`Europa em crise demográfica, à qual dão novo vigor. As próprias igrejas de vários países europeus são revitalizadas pela presença de imigrantes cristãos. Em vez disso, prega-se o medo que incha as fileiras dos diversos partidos dos "muros". Francesco, o Patriarca Bartolomeu e o Arcebispo de Atenas lançam uma mensagem através da viagem a Lesbo, que simbolicamente representa uma ponte entre a Europa e o mundo dos refugiados. As Igrejas não pode ficar prisioneiras das lógicas institucionais ou das políticas dos seus países, sem uma visão do futuro. Pergunto-me se este não será o momento para uma convocatória dos cristãos europeus (ecuménica e rápida), um sínodo ecumênico, que aborde a grande questão dos refugiados e  da Europa. O papa pode convoca-lo. E com ele o Patriarca Bartolomeu. 

Este artigo de Adrea Riccardi apareceu no n.16/2016 de  Famiglia Cristiana