Deixemo-nos interpelar pelo Menino na manjedoura, mas deixemo-nos interpelar também pelas crianças que, hoje, não são reclinadas num berço,

AS PALAVRAS DO PAPA FRANCISCO
nem acariciadas pelo carinho duma mãe e dum pai, mas jazem nas miseráveis «manjedouras de dignidade».

 Deixemo-nos interpelar pelo Menino na manjedoura, mas deixemo-nos interpelar também pelas crianças que, hoje, não são reclinadas num berço nem acariciadas pelo carinho duma mãe e dum pai, mas jazem nas miseráveis «manjedouras de dignidade»: no abrigo subterrâneo para escapar aos bombardeamentos, na calçada duma grande cidade, no fundo dum barco sobrecarregado de migrantes. Deixemo-nos interpelar pelas crianças que não se deixam nascer, as que choram porque ninguém lhes sacia a fome, aquelas que na mão não têm brinquedos, mas armas.


O mistério do Natal, que é luz e alegria, interpela e mexe connosco, porque é um mistério de esperança e simultaneamente de tristeza. Traz consigo um sabor de tristeza, já que o amor não é acolhido, a vida é descartada. Assim acontece a José e Maria, que encontraram as portas fechadas e puseram Jesus numa manjedoura, «por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 7). Jesus nasce rejeitado por alguns e na indiferença da maioria. E a mesma indiferença pode reinar também hoje, quando o Natal se torna uma festa onde os protagonistas somos nós, em vez de ser Ele; quando as luzes do comércio põem na sombra a luz de Deus; quando nos afanamos com as prendas e ficamos insensíveis a quem está marginalizado. Esta mundanidade fez refém o Natal; é preciso libertá-lo!

Mas o Natal tem sobretudo um sabor de esperança, porque, não obstante as nossas trevas, resplandece a luz de Deus. A sua luz gentil não mete medo; enamorado por nós, Deus atrai-nos com a sua ternura, nascendo pobre e frágil no nosso meio, como um de nós. Nasce em Belém, que significa «casa do pão»; deste modo parece querer dizer-nos que nasce como pão para nós; vem à nossa vida, para nos dar a sua vida; vem ao nosso mundo, para nos trazer o seu amor. Vem, não para devorar e comandar, mas alimentar e servir. Há, pois, uma linha direta que liga a manjedoura e a cruz, onde Jesus será pão repartido: é a linha direta do amor que se dá e nos salva, que dá luz à nossa vida, paz aos nossos corações.

Da homilia do Papa Francisco durante a Missa da Noite de Natal - 24 de Dezembro de2016