Marcos 9, 14 – 29
Ia ter com os seus discípulos, quando viu em torno deles uma grande multidão e uns doutores da Lei a discutirem com eles. Assim que viu Jesus, toda a multidão ficou surpreendida e acorreu a saudá-lo. Ele perguntou: «Que estais a discutir uns com os outros?» Alguém de entre a multidão disse-lhe: «Mestre, trouxe-te o meu filho que tem um espírito mudo. Quando se apodera dele, atira-o ao chão, e ele põe-se a espumar, a ranger os dentes e fica rígido. Pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não conseguiram.» Disse Jesus: «Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá.» E levaram-lho.
Ao ver Jesus, logo o espírito sacudiu violentamente o jovem, e este, caindo por terra, começou a estrebuchar, deitando espuma pela boca.
Jesus perguntou ao pai: «Há quanto tempo lhe sucede isto?» Respondeu: «Desde a infância; e muitas vezes o tem lançado ao fogo e à água, para o matar. Mas, se podes alguma coisa, socorre-nos, tem compaixão de nós.» «Se podes...! Tudo é possível a quem crê», disse-lhe Jesus. Imediatamente o pai do jovem disse em altos brados: «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» Vendo, Jesus, que acorria muita gente, ameaçou o espírito maligno, dizendo: «Espírito mudo e surdo, ordeno-te: sai do jovem e não voltes a entrar nele.» Dando um grande grito e sacudindo-o violentamente, saiu. O jovem ficou como morto, a ponto de a maioria dizer que tinha morrido. Mas, tomando-o pela mão, Jesus levantou-o, e ele pôs-se de pé. Quando Jesus entrou em casa, os discípulos perguntaram-lhe em particular: «Porque é que nós não pudemos expulsá-lo?» Respondeu: «Esta casta de espíritos só pode ser expulsa à força de oração.».
Homilia de Sviatoslav Shevchuk , Arcebispo Maior de Kiev - Halyč, primaz da Igreja Greco-católica Ucraniana.
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Boa noite a todos.
Ao vir nesta igreja, orando convosco, eu me sinto em casa. Já sou vosso irmão. Lembro-me de quando a última vez, viemos para orar na vossa Comunidade; depositámos na basílica de São Bartolomeu o nosso tesouro: as relíquias dos nossos mártires.
Mas naquele momento nunca me passou pela cabeça que teríamos novos mártires, que a violência iria manifestar-se na nossa terra.
Mesmo nestes três meses a Ucrânia estáa viver o momento, talvez, mais difícil de sua história.
As pessoas finalmente se rebelaram contra as mentiras, a corrupção, a ditadura, contra um governo despótico, que para fins políticos tem usado a dor e o sangue daquele povo que deveria servir.
Como sabem bem por três meses na Ucrânia experimentámos momentos de um protesto pacífico. Alguns diziam que os ucranianos descobriram uma nova forma de protesto:
só ficar na praça, sem se mexerem e ficaram centenas de milhares de pessoas, mesmo quando a temperatura caiu para 29 graus abaixo de zero.
Mas na semana passada , uma escuridão cobriu a cidade de Kiev: um atirador, com sangue frio, matou mais de 100 pessoas. Pessoas que estavam a ajudar os outros, que queriam salvar as vidas dos feridos. Verdadeiramente estas vítimas têm um pouco despertado o país.
Sentímos uma profunda rejeição da violência. Todas as Igrejas na Ucrânia abertamente disseram não à violência. Quarta e quinta-feira passadas as nossas catedrais, aquela Latina, a greco-católica, na cidade de Kiev, tornaram-se salas de cirurgia, onde se operavam as pessoas que não podiam ser transportadas em outro lugar. Mas esses dias de sofrimento, de lágrimas, despertaram de novo de uma forma surpreendente a solidariedade. As nossas Igrejas tornaram-se centros de solidariedade humana e cristã e, mesmo graças a esta unanimidade, conseguimos pôr fim à violência. Alguns dizem: para o momento. Porque ninguém sabe como isso vai acabar. Por isso vim até aqui para pedir a vossa solidariedade.
A Comunidade de Sant’Egidio é conhecida em todo o mundo, porque sabe orar pela paz. Peç-vos, talvez todos os dias, pelo menos um Pai Nosso e uma Ave Maria pela paz na Ucrânia.
Mas vós não apenas oram, mas constroem a paz . Em muitos conflitos no mundo a vossa Comunidade foi verdadeiramente uma mediadora e uma construtora da paz. Mesmo neste conflito pedimos a vossa solidariedade, a vossa mão.
Estou convencido de que o Senhor está presente ao lado dos que sofrem. Antes de sair para Roma visitei estes hospitais clandestinos no centro da cidade. Entrei na Igreja Luterana, mesmo ao lado do prédio da administração do presidente, e naquela Igreja Luterana sempre houve pelo menos 10 pessoas feridas. Quando quis agradecer ao pastor luterano, ele me disse: não tem de agradecer porque percebemos que ali, na praça, e aqui na igreja, Cristo está presente na pessoa deste ferido que agora estamos a ver entre nós.
O Cristo está presente, está operativo, ele é a nossa esperança. Ele é a nossa paz, ele é a nossa luz e realmente abre para nós, juntamente com os outros, uma possibilidade pacífica:
Tratar as feridas. Não apenas as do corpo.
Na verdade, agora existem milhares de feridos. Alguns países europeus vizinhos, como a Polónia, a Eslováquia, a República Checa, incluindo a Lituânia, acolheram dezenas de feridos.
Jovem com 20 anos perderam um braço, um olho.
Esta possibilidade de tratar as feridas do corpo é importante, mas estão feridas, de modo espiritual, também as almas. Temos de pôr fim ao ódio, ao rancor. Devemos sanar tudo o que dificulta a construção de uma paz verdadeira.
Que Cristo, que é a nossa paz, esteja com todos nós. Amém